O ex-presidente Jair Bolsonaro virou manchete ao tentar falar inglês durante um comício na Avenida Paulista. Antes de entregar sua mensagem sobre “vendedores de pipoca e sorvete condenados por golpe de Estado no Brasil“, Bolsonaro admitiu candidamente: “Eu não falo inglês. É uma grande falha na minha formação.” Este momento levanta uma questão interessante: quais presidentes brasileiros realmente conseguiam falar inglês com fluência?
Habilidades Linguísticas Presidenciais na Democracia Moderna Brasileira
Desde a redemocratização do Brasil em 1985, a formação educacional e as habilidades linguísticas dos presidentes variaram amplamente. Embora a proficiência em inglês não seja um requisito constitucional para o mais alto cargo do Brasil, ela se tornou cada vez mais relevante em nosso mundo globalizado. Vamos examinar as capacidades linguísticas e a formação educacional de cada presidente.
Fernando Collor de Mello (1990-1992)
Primeiro presidente diretamente eleito após a ditadura militar, Collor formou-se em Economia pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Embora não fosse conhecido por excepcional fluência em inglês, Collor conseguia se comunicar em inglês básico. Sua formação em economia provavelmente incluía alguma instrução em inglês, já que textos e artigos de pesquisa econômica são predominantemente publicados em inglês.
Itamar Franco (1992-1994)
Assumindo o cargo após o impeachment de Collor, Itamar Franco tinha formação em engenharia em vez de política. Formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1955, tornando-se o único engenheiro a servir como presidente. Franco não era conhecido por proficiência em inglês e se comunicava principalmente em português durante reuniões internacionais.
Fernando Henrique Cardoso (1995-2003)
FHC se destaca como o presidente mais multilíngue do Brasil. Com doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Cardoso é fluente em inglês, francês e espanhol, além de seu português nativo. Durante sua carreira acadêmica, lecionou em universidades estrangeiras, incluindo Stanford e a Universidade de Cambridge, dando palestras em inglês. Suas habilidades linguísticas melhoraram significativamente a posição do Brasil na diplomacia internacional e fóruns globais.
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010 e 2023-presente)
Apesar de não ter educação superior formal, Lula desenvolveu inglês funcional durante sua presidência, embora geralmente contasse com intérpretes para funções diplomáticas oficiais. Suas habilidades em inglês melhoraram ao longo de sua carreira política, particularmente durante seus dois primeiros mandatos. Nos últimos anos, Lula demonstrou melhor compreensão do inglês do que capacidade de fala, frequentemente entendendo perguntas em inglês antes de responder em português e não se arrisca a falar no idioma.
Dilma Rousseff (2011-2016)
Rousseff estudou Economia tanto na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) quanto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), embora não tenha concluído seu doutorado na Unicamp. Quanto ao inglês, Rousseff tinha conhecimento básico, mas consistentemente usava intérpretes para comunicações internacionais. Ocasionalmente, tentava cumprimentos em inglês em ambientes diplomáticos, mas não se sentia confortável conduzindo conversas prolongadas, motivo que virava meme ao tentar falar inglês e francês.
Michel Temer (2016-2018)
Professor de direito constitucional com diploma pela USP, Temer possuía habilidades moderadas em inglês. Embora não fosse fluente, conseguia participar de conversas simples e entendia bem o idioma. Sua formação jurídica proporcionou-lhe vocabulário técnico em inglês, particularmente relacionado a questões constitucionais.
Jair Bolsonaro (2019-2022)
Bolsonaro, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, reconheceu abertamente sua proficiência limitada em inglês. Sua recente tentativa de falar inglês em um comício público demonstrou sua dificuldade com o idioma. Durante toda sua presidência, Bolsonaro dependia fortemente de intérpretes para comunicações internacionais.
Tendências Educacionais Entre Presidentes Brasileiros
A formação educacional dos recentes presidentes do Brasil reflete caminhos diversos para a liderança:
Formação em Direito: Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer
Formação em Economia: Fernando Collor, Dilma Rousseff
Engenharia: Itamar Franco
Educação Militar: Jair Bolsonaro
Sem Diploma de Ensino Superior: Lula
Proficiência em Inglês na Política Brasileira
Fernando Henrique Cardoso continua sendo o presidente brasileiro mais linguisticamente realizado, com genuína fluência em múltiplos idiomas, incluindo o inglês. A maioria dos outros presidentes possuía, na melhor das hipóteses, inglês funcional ou básico, dependendo de intérpretes para comunicações diplomáticas importantes.
À medida que o Brasil continua a aumentar sua presença global, habilidades linguísticas — particularmente a proficiência em inglês — podem se tornar mais importantes para futuros líderes. No entanto, como demonstrado por presidentes como Lula, barreiras educacionais impediram a capacidade do Brasil de se envolver no cenário mundial.
O cenário político único do Brasil mostra que diversas formações educacionais e diferentes níveis de proficiência em inglês podem levar à presidência, refletindo a abordagem multifacetada do país quanto às qualificações de liderança.